segunda-feira, outubro 27, 2008

O louco construiu a sua casa sobre a areia

Uma das palavras mais repetidas nas últimas semanas é a palavra “crise”. Para nós portugueses não é uma palavra nova. Mas esta crise é diferente, é uma crise mundial e iniciada no sector financeiro, que chegará com certeza à chamada “economia real”, às nossas vidas concretas e que, de certa forma já chegou, com a subida das taxas de juro.
Iniciada nos EUA no chamado “subprime” (mercado hipotecário de alto risco, ou seja empréstimos feitos a famílias com baixos rendimentos em que os Bancos estavam convencidos de que a casa seria uma garantia suficiente uma vez que as casas se tinham valorizado continuamente nos últimos 20 anos), rapidamente se arrastou ao resto do Mundo. Com a sofisticação dos mercados financeiros e a elevada mobilidade do dinheiro, foram criados produtos financeiros vendidos em todo o Mundo que na base estavam estas casas às quais era atribuído um valor acima do seu valor real. As famílias começaram a deixar de pagar as suas casas e estas estavam sobrevalorizadas, logo esses produtos deixaram de ter valor.
Sem a entrada do dinheiro no sistema proveniente do pagamento das casas e com a desconfiança que se instala entre Bancos não emprestando dinheiro entre si, passa a existir falta de liquidez (o dinheiro em circulação diminui). Daí os Bancos Centrais realizarem injecções de liquidez, ou seja colocam dinheiro no mercado. O reflexo da desconfiança entre Bancos é o aumento das taxas de juro.
Se de repente todos fôssemos ao Banco levantar o nosso dinheiro, o Banco entraria na bancarrota, porque não tem esse dinheiro no cofre. Os Bancos apenas são obrigados a guardar uma pequena parte dos depósitos (menos de 10%), o restante é usado para empréstimos e aplicações nos mercados financeiros. Temos assim um sistema bancário baseado na confiança. Daí que alguns governos para manter a confiança no sistema tenham feito a garantia dos depósitos, ou seja, podemos ficar descansados e não “correr” para o Banco porque os governos asseguram os depósitos (este limite está a ser aumentado de semana para semana de forma a tranquilizar os depositantes).
Talvez tão importante como a crise financeira seja a crise social. Habituámo-nos a consumir, mesmo sem dinheiro. O consumo e o prazer passaram a ser dois elementos indiscutíveis na nossa vida; não os colocamos em causa e indignamo-nos se outros não seguem este modelo. Talvez por esta via esta crise nos traga algo de bom, nos ajude a centrar a nossa vida no essencial. Esta situação não é nova, já o salmista refere «uns confiam nos carros, outros nos cavalos, eu por mim confio no Senhor Deus de Israel».
Penso que esta crise vem pôr a nu um aspecto relevante: quando nos esquecemos de quem somos e qual a nossa missão (sem pôr em causa os legítimos sonhos), facilmente podemos ficar deslumbrados e cegos. Neste processo milhares de analistas, auditores, reguladores, empresas de ‘rating’ (avaliam o risco de empresas e países), gestores, formados nas melhores escolas de negócios de todo o Mundo se deixaram deslumbrar pelo lucro rápido, fácil e se esqueceram de que o sistema financeiro deverá ser o suporte da economia real.
Creio que a melhor forma de ultrapassarmos a crise é cada um nas suas tarefas diárias dar o melhor de si, com empenho e alegria. Que o Senhor nos conceda o dom da confiança e que a nossa fé não deixe que o amor seja esmagado pelo medo da incerteza futura.


Luís Martins

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